2 Irons, 1 semana: PARTE 3 - Todo esforço recompensado pela Natureza

02/12/2012 13:29

   Depois do perrengue da chegada, começava a hora de curtir a cidade e pensar na prova. Na quarta-feira, 21/06, fomos buscar meus pais no aeroporto. Eles passariam os próximos 10 dias da viagem conosco.

   Na quinta-feira resolvi sair cedo, antes das 05:30, para fazer um pedal e verificar se estava tudo certo com a bicicleta. Aproveitando o pouco movimento utilizei o espaço entre as linhas do train para chegar até o calçadão da praia.

   No caminho estavam limpando as ruas com mangueiras bem generosas e percebi que o cidadão “niciano” não estava nem aí para mim. Fiquei prestando atenção para não levar um banho e nisso a roda dianteira caiu no trilho e eu levei aquele tombo. Conheci o asfalto de Nice bem de perto.

   A camiseta de manga comprida me salvou de um ferimento no braço, mas o joelho levou aquela ralada. Percebendo que estava tudo bem comigo, era a hora de ver a bicicleta. Uma manete torta, nada que um bom tranco corrigisse na hora e o freio traseiro pegando na roda também ajustado na hora. No mais, nenhum prejuízo.

   Passado o susto, continuei a pedalar até a praia e pelo calçadão fui até as imediações do aeroporto, retornando de lá para o hotel. Ainda nesta manhã Xuxa e eu fomos a praia para curtir aquele lugar incrível e, claro, aproveitar para uma nadada com a roupa de neoprene e sentir a sensação de nadar no mediterrâneo. Nesta manhã encontramos Ilka, triatleta sergipana que já completou várias maratonas e Ironmans mundo afora, e seu marido.

   Véspera da prova fomos deixar o material na transição. Um “mar” de bicicletas já postadas em seus lugares. Mais de 2600 atletas participariam desta prova.

   Domingo madrugamos, hábito obrigatório para quem participa de Ironman, e por volta das 05:30 já estávamos na área de transição para os últimos preparativos.

   As 06:30 soou a buzina para mais uma prova. A quantidade de atletas era assustadora, mas confesso que não foi das mais estressantes a natação deste iron. Em 01 hora e 04 minutos saí d'água e fui para o que seria o ciclismo mais desafiador que já participei.

   Os 10 quilometros iniciais não se diferenciavam das demais provas já que ainda estávamos dentro da cidade. No quilometro 16, após uma pequena curva para a esquerda, lá estava uma verdadeira rampa a ser vencida, com poucos metros de extensão, mas uma inclinação duríssima, como primeiro teste limite dos atletas.

   A partir deste ponto até o quilometro 120 a prova seria uma verdadeira escalada. Poucos trechos planos e de descida do quilometro 20 até o 120, como podem verificar nos mapas do percurso e altimetria. No quilometro 50 começava uma subida de pouco mais de 20 km. Era força o tempo todo. Subidas íngrimes que acho que se parasse não teria condições de retomar a pedalada tamanha a força necessária.

   Fui desenvolvendo bem este trecho até que próximo do final desta escalada, por volta do quilometro 119, o pneu dianteiro furou. Tempo perdido, mas até que bem vindo para dar uma relaxada nas pernas. Não demoraria para perceber que o pneu furou em um momento providencial.     Passado o quilometro 120 começavam as descidas. Um trecho de 30 km de descidas e curvas fechadas até chegar novamente na cidade. E nem pensar, no meu caso, em compensar o tempo das subidas e o perdido com a troca do pneu. Era curva atrás, ou melhor, a frente de curva.    Algumas faziam retorno de 180 e para mim que não tenho experiência neste tipo de trajeto a insegurança era total.

   Alguns ciclistas passavam com muita rapidez e a sensação era de estar em uma prova de moto GP. Deitavam as bicicletas nas curvas sem receio e 2 ou 3 curvas depois já tinham sumido da minha vista.

   Permaneci cauteloso e conclui o pedal são e salvo em 05 horas e 47 minutos. Entreguei a bicicleta – detalhe que em Nice o staff não pega sua bicicleta, o própria atleta fica responsável em levá-la até o local de onde a retirou – e saí para correr. Acho que devido aos treinos e por estar confiante na corrida, como na Alemanha, foi onde me senti mais confortável (talvez esta não seja bem a palavra após 7 horas de prova, mas...).

   Com a corrida bem encaixada e com uma passada rápida e curta imprimi um bom ritmo. Aproveitei que Cirryl Vienot, que terminou em 3º lugar no geral, me passou logo nos meus primeiros quilometros – ele já estava abrindo a 3ª volta, ou seja, já havia completado 21 km – e o acompanhei. Consegui usar a corrida dele para puxar na minha 1ª volta. Estava bem e cheguei a ultrapassá-lo antes do fim da volta. Na 2ª volta parei no banheiro e quando voltei o alcancei novamente. Quando completei a metade da maratona escutei o locutor anunciando a chegada de Cirryl Vienot. Sem dúvida fou uma motivação. Afinal consegui manter um ritmo no primeiros 21 km próximo ao dos profissionais. A 3ª volta foi mais lenta, mas mesmo assim dentro de um bom ritmo.

   Quando abri a última volta tentei forçar, mas percebi que era cedo – sem dúvida reflexo de estar carregando o cansaço acumulado do primeiro Iron e do duro trajeto de ciclismo de Nice - e deixei para fazê-lo quando retornei para os últimos 5,25 km. Um pace bom para o fim da maratona para completá-la em 03 horas e 16 minutos, finalizando a prova em 10 horas e 21 minutos totalmente exausto, resultado da combinação de dois Ironmans em uma semana sendo que o segundo tem o percurso mais dificil e desgastante no ciclismo, concorrendo apenas com o Ironman Lanzarote.

   Permaneci uns 40 minutos sentado no gramado para me situar onde estava e mais um bom tempo para chegar na tenda dos “comes e bebes”.  Esta foi a sacanagem da organização porque prepararam as tendas de comida em um teatro a céu aberto onde os atletas tinham que descer uma escadaria e não tem coisa pior que descer escadas com a musculatura da perna dolorida. Depois de um bom tempo de “recuperação” fui pedalando, já que o ato de pedalar era mais fácil que o de caminhar, até o hotel.

   Nice é uma prova espetacular, muito desafiadora e em um local lindíssimo.

   Nestas viagens não há tempo de pensar, e no dia seguinte aproveitei para conhecer Mônaco para em seguida dar início a viagem de férias propriamente dita visitando outros países da Europa.