IRONMAN Brasil 2010, concluído com mérito

24/06/2010 15:10

         Participar de uma prova de IRONMAN demanda muito investimento. É necessário investir no seu tempo, abrindo mão de muitas horas de lazer. Todavia, se você transformar seu treinamento em “lazer” ganhará em duplicidade, pois estará adquirindo condicionamento físico aliado ao prazer encontrado nas atividades de lazer.

        É preciso também investimento financeiro. Não vejo este investimento de forma negativa.

        Neste momento, precisará aprender a poupar e a controlar seus gastos com mais disciplina. No início, é preciso investir nos equipamentos básicos, tais como: tênis, meia, roupa de neoprene, óculos de natação, bicicleta, sapatilha, macaquinho, óculos, capacete, luva e boné. Depois a manutenção da bicicleta que deve ser periódica para mantê-la sempre em condições de realizar os treinamentos e a prova em segurança. As despesas com a viagem: passagens, transporte no local, hospedagem, alimentação para ao menos 3 dias, se contarmos chegar um dia antes da prova e deixar a cidade um dia após a prova. O ideal é chegar, no mínimo, dois dias antes para entrar no clima da competição e aproveitar toda a estrutura que a organização oferece e que você comprou, já que o valor investido na inscrição não é modesto.

        Nesta primeira experiência, posso dizer que não é necessário investir na bicicleta mais cara. Minha bicicleta, uma Aerotech Corsa, do estilo speed tradicional, foi comprada de segunda mão um ano antes da prova. Na época, eu não possuía conhecimento suficiente para saber se estava comprando um bom equipamento, mas sem dúvida foi uma boa aquisição. Precisei apenas adquirir os pedais para encaixe da sapatilha e um clipe, que também adquiri de segunda mão em ótimas condições. Clipe de carbono, da marca Syntace, comprado pelo equivalente a 25% do valor de um novo.

        Acima de tudo, é necessário investir na saúde. Adotar uma rotina saudável, alimentando-se de maneira correta, dormindo cedo e o mínimo suficiente para o organismo se restabelecer. Acompanhar periodicamente, através de exames, como o organismo está reagindo aos treinos e a mudança da rotina.

        É fundamental estabelecer esta nova rotina, pois acima de tudo o principal benefício é a saúde e o bem-estar.

        Mas e a prova, como foi ?

        Antes da largada, tudo passa muito rápido. Cheguei às 05:00 da manhã na área de identificação. Após marcar a numeração, fui para a tenda de troca pegar as sacolas deixadas no dia anterior e arrumar as garrafas na bicicleta, conferir os pneus e verificar se está tudo certo. Por volta das 06:00 nos dirigimos para o local da largada, que fica a 700 m da área de transição, com a roupa de borracha nas costas. Chegando na praia vesti a roupa de borracha, recebi as últimas palavras de incentivo da esposa, irmã e cunhado, que acompanharam a prova, e fui para o local destinado aos atletas. Neste momento, a concentração é total. Meses dedicados aos treinamentos e a privações foram resumidos em um único dia.

        Soada a buzina, todos correram para o mar. O mar estava em boas condições para realizar uma boa prova. Mas, no meu caso, o que impediu o desenvolvimento de uma prova mais rápida foi a quantidade de pessoas na água. Quando me deparava com pés, mãos e braços por todos os lados, eu tentava me afastar um pouco para nadar com mais espaço. O trajeto de 3.800 m foi dividido em duas fases. Na primeira, foi preciso contornar duas bóias e retornar para a areia. Quando sai da água para percorrer o trecho de areia, olhei no relógio e ele marcava 10 centésimos. Pensei: “Estou super rápido...”, mas o que aconteceu é que na largada ao apertar o botão o cronômetro iniciou e parou. No trajeto da areia, apertei o botão novamente e deixei o cronômetro correr mesmo sabendo que já havia passado, no mínimo, 30 minutos de prova. Entrei na água novamente e no segundo trecho foi preciso contornar outras duas bóias para alcançar o canto norte da praia de Jurerê Internacional em direção ao clube onde estava localizada a transição. Sai na área e não conseguia abrir o zíper para tirar a parte superior da roupa de borracha. Com a ajuda de um staff (voluntários que orientam e auxiliam os atletas durante a prova) descobri que a fita do macaquinho estava presa no zíper da roupa de borracha. Este mesmo staff arrebentou a fita e conseguiu soltar o zíper. Tirada a roupa de borracha, fui para a tenda de troca pegar os equipamentos necessários para o ciclismo. Vesti capacete, luvas, óculos, meia e um cinto que tem duas funções: porta-número e porta barras de cereal e energéticos.

        O ciclismo começa num ritmo mais lento ainda dentro de Jurerê Internacional, mas 2 a 3 quilômetros depois da transição já estamos entrando na rodovia. Pedalando a uma média de 35 a 38 km/h. Nos primeiros 15 quilômetros, há trechos de descida onde alcancei 67 km/h de velocidade. Estava pedalando bem. Ao chegar no centro de Florianópolis a média caiu, ficando entre 30 e 33 km/h, devido ao vento.

        Condições semelhantes a que enfrento nos treinos já que em Aracaju o vento não dá trégua.

        Por volta do quilômetro 40, fui interpelado por um dos fiscais que me penalizou com um cartão amarelo, justificando que eu estava me beneficiando do vácuo.     Pior que o cartão, é ter que parar, descer da bicicleta colocando os dois pés no chão. Tempo perdido que seria somado aos cinco minutos parados na tenda de penalização antes da corrida.

        Com mais 140 km de prova, eu não podia levar outro cartão, pois seria desclassificado.

        Continuei a prova, que por sinal tem um percurso muito interessante passando por viadutos e túneis. Do quilômetro 65 ao 75 vinha uma série de subidas. Neste momento, a velocidade média chegava a 20 km/h em alguns trechos. Minha intenção era fazer a prova toda com o câmbio dianteiro na coroa maior, mas neste trecho não foi possível. Precisei aliviar a marcha passando-a para a coroa menor. O problema é que depois não consegui mais retornar o câmbio para a coroa maior.

        Com uns 80 km avistei o veículo da organização que trazia um cronômetro no alto marcando 3 horas e 40 de prova. Nesta hora pensei: “Já tem esse tempo de prova e nem senti passar. Parecia que tinha começado a 30 minutos”. São pensamentos como este que dão força e ânimo para manter o foco e não diminuir o ritmo. Completado os 90 km e após receber a energia da torcida, sai para a 2a volta de 90 km.

        Nesta volta, o ritmo caiu um pouco. A velocidade máxima atingiu 62 km/h e a nas subidas mais íngremes, após ter pedalado por volta de 155 km, a velocidade chegou a 12 km/h. Durante os 180 km, precisei parar duas vezes para atender necessidades fisiológicas. A organização mantém vários pontos com estrutura para hidratação e banheiros químicos. Completei o percurso, deixei a bicicleta com o staff e fui para a tenda de troca pegar o material da corrida. No entanto, logo escutei meu número sendo chamado na tenda de penalização. Era preciso cumprir 5 minutos parado por conta do cartão amarelo duranto o ciclismo.

        Passados os 5 minutos peguei a sacola de corrida. Calcei o tênis, troquei o capacete pelo boné e sai para correr uma maratona. Minha intenção sempre foi correr os 42 km para 3 horas e 30 minutos, o que equivale a um ritmo de 5 minutos/km. Este é o momento que você tem maior contato com o público e é impressionante como após 6, 7, 8 horas de prova as pessoas que acompanham a prova estão animadas para incentivar os atletas. Não importa se lhe conhecem. Você ouve incentivo das pessoas nas ruas, nos prédios e nos carros.

        Por volta do quilômetro 9 foi preciso enfrentar a famosa “subida da igrejinha”. É um trecho com uma inclinação bem acentuada. Mas confesso que o desafio de percorrê-la sem caminhar é estimulante. Passado este trecho aparecem algumas descidas até Canasvieiras. Mas descidas transformam-se em subidas e retornando de Canasvieiras, no quilômetro 13 ou 14 foi preciso enfrentar outra subida, de menor grau de dificuldade, mas que também deve ser encarada como desafiante. Depois disso o percurso permaneceu todo plano.

        A primeira volta foi de 21 km e estava mantendo o ritmo que gostaria. Quando me aproximei do local para pegar a pulseira que identifica 21 km completos, escutei o locutor informando que Oscar Galindez estava completando a prova em 5o lugar. Passei pela família comemorando minha participação na prova e rebendo o apoio para continuar. Percorri a 2a volta, agora de 10,5 km, ainda mantendo o ritmo de 5 minutos/km. Completei 31 quilômetros e meio, recebi a pulseira preta indicando que faltava a última volta de 10,5 km.

        Novamente passei pela família com o mesmo ânimo indicando que “só faltam 10”. Neste último trecho meu rendimento caiu e passei a correr para 5 minutos e 30 a 5 minutos e 50/km. Faltando menos de 2 quilômetros pensei em acelerar o ritmo, mas o corpo não respondia. Parecia estar anestesiado e satisfeito apenas em completar, não importando se seria 2 minutos a mais ou a menos.

        Controlei a emoção até avistar minha esposa no corredor da chegada. Quando demos as mãos a emoção tomou conta. Estava realizando um desejo de superação da maneira como havia idealizado, ou melhor, com detalhes a mais já que os últimos metros foram percorridos ao lado da minha esposa e com o apoio da minha irmã que documentou o momento.

        Assim, as 17:32 do dia 30 de Maio de 2010 eu completava minha primeira prova de Ironman em 10 horas e 32 minutos.

 

        Agradeço a todos que torceram e mentalizaram a realização de uma boa prova.

        Fiquei muito feliz quando soube que a equipe de natação do clube que nado, incentivada pelo técnico Sérgio Nunes, torceu e acompanhou via internet durante todo o dia.

    Em especial:

- A Deus que me contempla com saúde e proteção para me dedicar as preparações  exigidas.

- A Alexandra, a IRONWIFE, que sempre me acompanha e registra os momentos pacientemente nas competições e compreende meu surto em relação ao Triathlon.

- A Andréa e ao Ale, minha irmã e cunhado, que me surpreenderam ao viajar até Florianópolis para aumentar a torcida durante a prova e ao dar o apoio logístico.

- Aos meus pais, que percebi sempre estarem preocupados e ansiosos, quanto a minha escolha.

- À Dra. Karla que além da orientação nutricional a cada consulta tinha uma palavra de motivação, mesmo não concordando com a minha “loucura” como ela mesma dizia.

- Aos técnicos Sérgio Nunes e Jymmys Lopes responsáveis pela minha preparação e condicionamento físico.

- Ao casal Rafael e Karine, grandes amigos, que além da torcida, "suportaram" durante 14 dias os nossos queridos caezinhos Netuno e Athena.

- Ao amigo Chico, responsável pela minha participação e sempre com uma palavra, um texto ou um vídeo de incentivo.

- Aos integrantes da equipe RENAULT Triathlon pelos e-mails de incentivo e pela força dada em Florianópolis.

 

Mensagem Final:

        Durante uma prova de IRONMAN, você não encontra dificuldades, somente incentivos e disposição para alcançar a linha de chegada. Não importa se realizará seu sonho em 8 ou 17 horas. O que importa é ter consciência de que é possível, dentro de seus limites, pois afinal você treinou e se preparou para tornar-se um IRONMAN.

        Mais que completar a prova, é preciso celebrar a mudança de vida. Mudança que torna a pessoa mais saudável e confiante para encarar os desafios com a mesma força com a qual encarou os períodos de preparação e com o mesmo entusiasmo que demontrou durante a prova.


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